As escolas e as pessoas da ilha de Marajó: uma viagem missão

Viajar para a ilha do Marajó, no Pará, é um interesse turístico de muitos brasileiros, mas como são as escolas desse lugar? Visitá-las foi ampliar meu olhar para a Educação no Brasil, a partir das conversas de que participei

por Alcielle dos Santos*

Amanhecer antes das 4h da manhã foi o início de uma viagem que realizei com um grupo de profissionais de diferentes instituições para conhecer a região do Marajó, no Pará, em especial algumas de suas escolas. Enfrentar o sono foi algo recompensado pelo espetáculo de assistir ao nascer do sol, já embarcados na balsa de Belém para Salvaterra, primeira parada na ilha. Os tempos de balsa e estrada exigiriam muito do grupo, mas tínhamos um plano que nos animava: conhecer um pouco da rotina de diretores, professores e estudantes das escolas da região.

Em meu papel de Diretora de Educação do Instituto iungo, aprender sobre a realidade de um território, junto a profissionais que escreverão materiais pedagógicos e planejarão formação continuada de professores, é algo que coloca a mim e às equipes em condições de seguir planejando e elaborando com profissionais do Pará, inspirados pelos relatos que nos foram contados e pelo que pudemos ver caminhando pelos espaços das escolas.

Como brasileira e pesquisadora do campo da Educação, viajei consciente de que me depararia com desafios estruturais de diferentes áreas; afinal, em maior ou menor grau, temos muito a avançar na educação pública de nosso país e é exatamente isso que me mobiliza, assim como aos meus companheiros de viagem-missão. Porém, não é sobre isso que quero escrever, quero falar sobre sonhos e possibilidades.

Eu alternei minha participação nas visitas às escolas entre acompanhar momentos de conversa com diretoras, professores e estudantes. Em todos esses momentos, encontrei sonhos e pessoas que os materializam, independente de condições e recursos. Voltei inspirada pela diretora que me falou que dentre os professores, há aqueles mais experientes que a ajudam a fazer o trabalho colaborativo e as propostas pedagógicas avançarem. Colaboração e solidariedade são princípios que confirmei como chave para avanços na educação. Também atestei o quanto os professores são essenciais e prioritários para transformações na educação; as rodas de conversa com eles eram recheadas de profissionalismo, seriedade e comprometimento. Dentre tantas pessoas especiais, uma jovem de 16 anos me ganhou com seus cabelos cacheados, seu olhar de extremo interesse por nossa conversa e tudo que nos contou. Ela tinha o sorriso da menina que recentemente ainda era e a audácia da jovem que governa os próprios sonhos e projetos de vida com altivez. Além de estudar à tarde, trabalhava como aprendiz no Ministério Público pela manhã e amava ler – caminhando pelo corredor comigo, perguntou: “o que você pensa sobre o Bentinho do livro do Machado de Assis?”. Encantada, desejei ter mais mil horas para conversar com ela sobre literatura, educação, mundo do trabalho, vida.

Conversar com as pessoas e conhecer os lugares: maneira incrível e eficaz de começar e ao mesmo tempo, de aprofundar, qualquer aprendizagem.

*Este artigo foi originalmente publicado no portal da Rádio Itatiaia, na coluna fixa de Alcielle dos Santos. Alcielle é diretora de educação do Instituto iungo, doutora em Psicologia da Educação e mestre em Educação: Formação de Formadores.