Dia da Amazônia – a necessidade e a urgência da participação das juventudes

“Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério. O jovem do Brasil não é levado a sério.” (Charlie Brown Jr)

*por Alcielle dos Santos

Este verso integra a letra de “Não é sério”, uma das músicas da banda Charlie Brown Jr., com participação da cantora Negra Li. Na letra de música do grupo de Santos/SP, município onde nasci, aparece uma realidade que precisa ser cuidada por todos nós e que já observo estar se transformando.

Os jovens do Brasil precisam ser levados a sério. E isso passa pelo processo de educação com participação social. Ou seja, nas escolas, os interesses, sentimentos, problemas e todas as questões da infância e juventude precisam fazer parte das aulas e projetos planejados por seus professores. Aprender é algo de natureza ativa. Ou seja, seres humanos só aprendem quando podem dialogar, ler, escrever, realizar algo a partir daquilo que estão aprendendo. Se esse processo se der a partir de algo de seu interesse, uma questão muito importante para o seu cotidiano, a mágica acontece: a aprendizagem se torna significativa.

Uma outra forma de trazer a realidade dos jovens, e pude vivenciar isso no Instituto iungo, foi o desenvolvimento de materiais pedagógicos para o programa Itinerários Amazônicos. Tivemos uma equipe de profissionais em que jovens ativistas da Amazônia puderam trazer para os materiais de estudo de outros jovens, questões que os afetam, os mobilizam. Afinal, questões como ansiedade climática, passaram a fazer parte dos problemas de quem mora em regiões ameaçadas pelas mudanças climáticas ou já impactadas, como é o caso do estado do Amazonas que passa por uma estiagem severa.

Outro exemplo vem do Pará, onde jovens e seus professores estão se preparando para a COP Jovem, uma pré-conferência da COP 30 que acontecerá no próximo ano e que tem por objetivo trazer vozes jovens, com sua visão de mundo e contribuições.

Importante destacar que a política nacional para o Ensino Médio indica que a formação nas escolas permita que os jovens adquiram conhecimentos e desenvolvam habilidades, para que possam ser agentes de mudanças nas suas comunidades. Portanto, não basta decorar os nomes dos rios de um município ou estado, é necessário compreender as intervenções humanas no leito dos rios, o que as motivou e quais as consequências ambientais nesse processo. Principalmente, é essencial construir compreensão e atuação na defesa do rio não como recurso, mas como parte do ambiente e território de todos os que moram ali, como direito e responsabilidade de cada um.

Escrevo esse texto hoje de Belém, no Pará, onde participo de um evento sobre educação e sustentabilidade, que conecta conhecimentos e promove diálogos a partir de práticas educativas, educação indígena, quilombola e de outras comunidades tradicionais para o debate sobre as mudanças climáticas. Nele, encontrei uma das jovens que me dá esperança de que vamos construir coletivamente uma sociedade mais ética, justa, democrática, inclusiva, solidária e sustentável:

“Quando começaram as discussões sobre clima, pensamos que nada sabíamos e com o tempo, começamos a perceber que já sabíamos do que falavam.”
Roberta Sodré

Roberta está certa. Os saberes já estão nas comunidades, circulando entre as pessoas. O que é necessário (e urgente) é unir esses saberes tradicionais com os saberes científicos, ter a participação ativa das juventudes, e, assim, encontrarmos soluções para os problemas complexos da atualidade.

*Este artigo foi originalmente publicado no portal da Rádio Itatiaia, na coluna fixa de Alcielle dos Santos. Alcielle é diretora de educação do Instituto iungo, doutora em Psicologia da Educação e mestre em Educação: Formação de Formadores.

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