A construção de projeto de vida é um dos eixos da educação integral. No ambiente escolar, o trabalho com essa temática engloba um conjunto de ações que promovem aprendizagens relacionadas à significação das trajetórias de vida dos estudantes, à construção identitária e de valores e às vivências em comunidade e no território. Tudo isso contribui para que os adolescentes e jovens construam projeções de futuro comprometidas com suas perspectivas e anseios pessoais, profissionais e sociais.
Vamos saber mais sobre o tema?
História do conceito de projetos de vida
Diversas áreas do conhecimento têm buscado respostas sobre quais são os propósitos e sentidos da vida. Na psicologia, o professor norte-americano William Damon é uma das principais referências nos estudos sobre projetos de vida. Autor do livro O que o jovem quer da vida? Como pais e professores podem orientar e motivar os adolescentes (Summus, 2009), Damon define projetos de vida como a “intenção estável e generalizada de alcançar algo que ao mesmo tempo é significativo para o eu e que gera consequências no mundo além do eu”. Em suas pesquisas com jovens estadunidenses, o pesquisador identificou que os projetos de vida incorporam a preocupação central de conseguir se guiar, como uma bússola que aponta direções e contribui para a construção de caminhos para as pessoas durante seu desenvolvimento.
A conceituação de Damon foi influenciada pelas contribuições do psiquiatra austríaco Viktor Frankl, que publicou, em 1946, o livro Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Para Frankl, ter um projeto de vida (ou sentido de vida) é a base para uma boa saúde mental, além da prevenção do que ele chamava de “vazio existencial”.
Outra referência importante para Damon foi o psicólogo anglo-alemão Erik Erikson, que dedicou a vida a compreender a formação da identidade humana. Erikson considera que o compromisso e o engajamento com certos valores, crenças e orientações são componentes essenciais para o projeto de vida, para o desenvolvimento humano saudável e, em particular, para o desenvolvimento positivo da identidade.
Na discussão contemporânea sobre projetos de vida, destaca-se também Martin Seligman, um dos fundadores da Psicologia Positiva. Ele entende que ter um projeto de vida é essencial para se atingir o bem-estar, e, para isso, é preciso que o indivíduo se sinta engajado em suas atividades, veja um sentido na vida, tenha bons relacionamentos interpessoais e se realize pessoalmente.
Já a psicóloga norte-americana Carol Ryff afirma que ter um projeto de vida é um dos aspectos fundamentais não apenas para garantir resiliência no enfrentamento de problemas do cotidiano e para manter a saúde mental, mas também para prosperar e ser bem-sucedido em todos os aspectos da vida.
Projetos de vida no Brasil
As pesquisas e conceituações de Damon embasam investigações científicas de diversos pesquisadores ao redor do mundo. No Brasil, o Núcleo de Pesquisas em Novas Arquiteturas Pedagógicas da Universidade de São Paulo (NAP/USP) desenvolve trabalhos que buscam compreender como os sujeitos, nas mais variadas fases da vida, desenvolvem seus projetos de vida.
Em entrevista concedida na live “iungo Convida: Projetos de Vida”, a Profª. Drª. Valéria Arantes, do NAP/USP, pelo menos três aspectos são relevantes para a configuração dos projetos de vida. O primeiro deles é relacionado a uma estabilidade do projeto ao longo do tempo, mesmo que haja ajustes e adaptações. O segundo aspecto diz respeito aos objetivos de longo prazo, uma vez que os projetos de vida articulam objetivos e metas concretas. E o terceiro aspecto se vincula à ideia de o projeto ser organizador e motivador da vida das pessoas, especialmente no sentido de orientar suas decisões e de exigir seu compromisso em atividades necessárias para sua realização.
Para o trabalho com projetos de vida, segundo Arantes, é essencial que as três dimensões que os constituem (pessoal, social e profissional) não sejam dissociadas. “Quando defendemos a formação integral, estamos nos referindo a uma formação que contemple conjuntamente os aspectos cognitivos, afetivos, sociais, culturais e valorativos na organização e na construção de projetos de vida. Nesse sentido, não dá para imaginar a formação profissional separada da formação pessoal ou social. O sujeito é um todo coeso e, se estamos falando de algo que o move, é preciso admitir que o significado pessoal que ele atribui aos diferentes componentes de sua vida, bem como a centralidade que tais componentes psicológicos ocupam (ou não) na constituição de sua identidade, impactarão seu modo de viver, pautado por valores e por padrões éticos”, pontua a professora.
Como trabalhar projetos de vida nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio
O Instituto iungo reúne uma série de materiais e recursos para potencializar o trabalho com projetos de vida em sala de aula. Esses materiais apoiam tanto o trabalho dos professores do componente Projetos de Vida quanto daqueles que atuam nas áreas do conhecimento e reconhecem a importância dos projetos de vida para a educação integral.
Para começar sua jornada, temos uma série especial de conteúdos pedagógicos sobre projetos de vida. Ela apresenta planos de aulas, podcasts e videoaulas. Em nosso canal no YouTube, uma série de vídeos também estão disponíveis para que você possa saber mais sobre o trabalho com projetos de vida na escola.
E para o educador que deseja ampliar sua formação, produzimos as formações Cartografias iungo. São dois cursos on-line e gratuitos sobre a temática: mapas de projetos de vida e planejando aulas de Projetos de Vida. Os cursos são recomendados para professores e gestores escolares do Ensino Fundamental 2 e do Ensino Médio que buscam trabalhar projetos de vida em diálogo com a Base Nacional Comum Curricular e por meio de metodologias ativas.
As inscrições para as formações estão abertas! Para saber mais e participar, clique aqui.
Texto adaptado de:
Linha do tempo sobre Projetos de Vida na educação
Projeto de Vida e Educação em Valores com Valéria Arantes