O Novembro Negro está chegando, e com ele, o Dia da Consciência Negra (20/11). Hoje, destacamos 7 personalidades negras que são referências para a construção de uma educação antirracista. A data é muito importante, porque lembra que a atenção para as relações étnico-raciais na escola precisa ir além do cumprimento da Lei 10.639, que tornou obrigatório o estudo da cultura negra brasileira na educação básica.
Confira a lista de referências para a educação antirracista e inspire-se para planejar suas aulas!
1. Maria Firmina dos Reis (1822-1917)
Mulher negra e nordestina, Maria Firmina dos Reis foi autodidata e apaixonou-se pelas Letras desde a infância. Aos 25 anos, tornou-se a primeira mulher a ser aprovada em um concurso público no Maranhão para ser professora do curso primário e a primeira a publicar um livro no país. Ela foi pioneira ao fundar uma escola mista, onde meninas e meninos podiam estudar juntos. No campo literário é reconhecida como a primeira romancista brasileira. Seu único livro, “Úrsula”, de 1859, foi pioneiro ao abordar a temática abolicionista, anterior, inclusive, à poesia de Castro Alves, autor do poema “Navio Negreiro”, publicado em 1880. Apesar da sua importância histórica, Maria Firmina dos Reis teve sua trajetória e escrita apagadas ao longo do tempo. Seu rosto verdadeiro é desconhecido e a escritora foi frequentemente retratada de forma embranquecida.
Maria Firmina começou a ser redescoberta na década de 1970, quando o historiador Horácio de Almeida encontrou, num sebo do Rio de Janeiro, a primeira edição do romance, assinado com o pseudônimo “Uma Maranhense”. Por meio da escrita, ela se posicionou contra a escravidão e a opressão feminina, inaugurando uma maneira de escrever e imaginar as individualidades de pessoas negras escravizadas.
Leia gratuitamente a obra “Úrsula” aqui.
2. Milton Santos (1926-2001)
Milton Almeida Santos, nascido na cidade baiana de Brotas de Macaúba, em 1926, formou-se em Direito pela Universidade Federal da Bahia em 1948, mas nunca chegou a exercer a profissão. Seu caminho seguiu pela Geografia. Na França, desenvolveu um doutorado nessa área,na Universidade de Strasburgo. Milton retornou ao Brasil no final dos anos 50, momento em que fundou o Laboratório de Estudos Regionais da Universidade da Bahia. Reconhecido como o maior geógrafo do Brasil e um dos grandes pensadores de ciências humanas no mundo, ele revolucionou os estudos de urbanização e globalização, ao abordar a importância e as influências do território para os seres humanos. Conquistou, em 1994, o Prêmio Vautrin Lud, o Nobel de Geografia, sendo o único brasileiro e o primeiro geógrafo latino-americano a receber essa honraria. Em 1997, ele também recebeu o prêmio Jabuti para o melhor livro de ciências humanas, com “A Natureza do Espaço”.
Outras obras de Milton:
3. Lélia Gonzalez (1935-1994)
Lélia Gonzalez é um grande símbolo da luta feminista e antirracista brasileira. Nascida nos anos 1930 em Belo Horizonte, mudou-se ainda criança com a família para o Rio de Janeiro e lá permaneceu por toda a vida. Em sua carreira acadêmica, cursou História, Geografia e Filosofia. Além de ter sido professora na educação básica, também lecionou em universidades.
Hoje reconhecida internacionalmente como grande intelectual e ativista negra, suas discussões sobre relações de raça e gênero no Brasil repercutem em diversos campos do conhecimento, principalmente nos estudos culturais e na antropologia. Entre suas obras, destacam-se:
4. Conceição Evaristo (1946-)
Conceição Evaristo é uma das maiores personalidades da literatura contemporânea feminina brasileira. Assim como Lélia Gonzalez, nasceu em Belo Horizonte e posteriormente foi morar na capital fluminense. Academicamente, cursou Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e trabalhou como professora da rede pública de ensino por muitos anos. Tornou-se mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro, com a dissertação Literatura Negra: uma poética de nossa afro-brasilidade (1996), e doutora em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense, com a tese Poemas malungos, cânticos irmãos (2011), sobre obras poéticas dos afro-brasileiros Nei Lopes e Edimilson de Almeida Pereira, em contraste com a escrita do angolano Agostinho Neto.
Suas obras resgatam a ancestralidade e recuperam a genealogia “negro-brasileira”. Em 2024, foi eleita para a Academia Mineira de Letras.
Entre suas obras estão:
5. Nilma Lino Gomes (1961-)
Nilma Lino Gomes é considerada uma das principais figuras no cenário da Educação, do combate ao racismo no Brasil e é um dos destaques entre as referências para uma educação antirracista. Ela é pedagoga, gestora e escritora, também é doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP) e tem pós-doutorado pela Universidade de Coimbra, em Portugal. Você sabia que Nilma é uma personalidade pioneira? A pesquisadora foi a primeira mulher negra a ser reitora de uma universidade federal no Brasil, a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), no Ceará, entre 2013 e 2014. E não parou por aí, em 2015 assumiu o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos.
Sua produção acadêmica é rica e diversificada, aborda temas como relações raciais e movimentos sociais. Especificamente na Educação, suas obras incluem organização escolar e formação de professores para a diversidade étnico-racial.
6. Carla Akotirene (1980-)
Carla Akotirene é uma das principais referências no debate público sobre encarceramento em massa e o racismo institucional, a partir de seus estudos sobre temas como feminismo negro, racismo estrutural, equidade de gênero e interseccionalidade. A pesquisadora e consultora em políticas públicas é doutora em estudos de gênero, mulheres e feminismo pela Universidade Federal da Bahia. Ela também é idealizadora da Opará Saberes, primeiro curso de extensão voltado à capacitação de candidaturas negras ao mestrado e doutorado em universidades públicas. Seu primeiro livro “O que é interseccionalidade?” foi publicado em 2019 pela editora Pólen Livros como parte da coleção Feminismos Plurais.
Outras obras de Carla:
7. Eliana Alves Cruz (1966-)
Eliana Alves Cruz é uma das grandes revelações da literatura afro-brasileira contemporânea. A escritora, roteirista, jornalista e apresentadora do programa Trilha de Letras (TV Brasil) foi a ganhadora do Jabuti, o prêmio mais importante da literatura brasileira, na edição de 2022 na categoria “Conto”, com o livro A Vestida (Malê). Segundo a autora, sua escrita se baseia principalmente em questionamentos sobre temas sociais e nos desdobramentos dessas perguntas. Entre suas obras também estão:
Quantas dessas personalidades você já conhecia? Inclua nas atividades de reflexão com os estudantes essas referências para a educação antirracista, nomes como Maria Firmina dos Reis, Milton Santos, Lélia Gonzalez, Conceição Evaristo, Nilma Lino Gomes, Carla Akotirene e Eliana Alves Cruz, que permitem, com suas obras, legados ou ações em curso, a construção de um processo de conscientização e de mudança social.
É preciso sensibilizar, conscientizar, aprender, agir e ser #ConscienteOAnoInteiro.
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