Resolver problemas para aprender e mudar o mundo

Fazer projeto na escola pode ser um caminho potente para que os alunos possam aprender com mais sentido

por Paulo Emílio de Castro Andrade*

A biblioteca ficava distante das salas de aula, fora da visão e da rota usual dos alunos. O acervo era limitado em quantidade e variedade de livros – um adolescente exclamou: “são poucos os livros realmente interessantes!”. O espaço, muito pequeno, tinha diversas estantes, o que dificultava a circulação das pessoas. O resultado de tudo isso? Os estudantes vivenciavam práticas de leitura limitadas.

Há alguns anos, visitei a Escola Toneza Cascaes, que fica em Orleans (SC). Logo na chegada, percebi uma agitação dos alunos e das professoras. Eles se preparavam para a gravação de um vídeo, que seria exibido em um congresso internacional. O que de tão importante aquela escola tinha para mostrar a educadores de várias partes do mundo?

A dupla transformação que tinham conquistado. A primeira transformação foi na biblioteca: seu espaço, seu acervo e o sentido que ela passou a ter. Durante um “rolé” pelo espaço da escola, no início do ano letivo, aquele grupo de cerca de 12 alunos do 1° ano do Ensino Médio, se deparou com o problema.

Decidiram agir, afinal, “a biblioteca é o coração da escola”, como lembraram as professoras Elizandra e Elaine. Então, alunos e suas professoras desenvolveram um projeto: estudaram o problema (suas causas, consequências, impacto na vida das pessoas…) e planejaram ações para solucioná-lo. Negociaram com a equipe gestora – que apoiou todo o processo – a mudança da biblioteca para um espaço maior e mais bem localizado. Fizeram uma curadoria dos títulos existentes, realizaram uma campanha para ampliação do acervo, catalogaram tudo.

Organizaram as estantes no espaço, que ganhou pintura nova e um mobiliário que acolhia melhor os leitores. E, principalmente, realizaram várias atividades de incentivo à leitura com os colegas. Após alguns meses, por meio da participação ativa dos alunos, orientados pelas professoras e direção, a escola passou a ter uma biblioteca viva!

A segunda transformação, que claramente observei na visita, está relacionada ao desenvolvimento daqueles adolescentes que realizaram o projeto: pensar o problema criticamente, trabalhar em equipe – escutar, argumentar e respeitar as ideias dos colegas -, fazer escolhas, criar soluções para as dificuldades do percurso, lidar com as frustrações, acertar e errar (aprendendo com os erros!), comunicar-se com as outras pessoas. Estão aí alguns exemplos do que aqueles alunos aprenderam, na prática.

Fazer projeto na escola pode ser um caminho potente para que os alunos possam aprender com mais sentido, conectando seus conhecimentos com problemas reais, transformando a si mesmo, o outro e o mundo!

*Este artigo foi originalmente publicado no portal da Rádio Itatiaia, na coluna fixa de Paulo Emílio de Castro Andrade. Paulo é presidente do Instituto iungo, professor da PUC Minas e pesquisador do Núcleo de Novas Arquiteturas Pedagógicas da USP.