Valorização do professor é destaque na pauta nacional

O compromisso de poder público e sociedade civil com a educação é essencial para que tenhamos escolas de qualidade para TODOS os estudantes

*Paulo Andrade

Como professor e pesquisador da Educação, tenho clareza de que não se faz educação de qualidade dentro das escolas se não houver investimentos consistentes voltados à promoção do desenvolvimento profissional e da formação de educadores brasileiros. Ao longo da minha jornada, observei como bons professores transformam realidades, possibilitando que seus estudantes se desenvolvam integralmente, ou seja, em suas dimensões física, intelectual, emocional, social e cultural. Nesse contexto, a valorização dos professores é essencial.

Recentemente, o Brasil deu passos significativos nesse sentido, com o envio ao Congresso do novo Plano Nacional de Educação (PNE) para os próximos dez anos e o lançamento do programa Mais Professores. Convido você a refletir comigo sobre essas iniciativas, que representam um esforço em articular diretrizes e estratégias para enfrentar os desafios educacionais do país.

O PNE, em sua nova proposta, reafirma a importância de uma visão sistêmica e o respeito à diversidade para a educação brasileira. Entre os objetivos gerais, está o foco no fortalecimento do desenvolvimento profissional docente e da formação continuada como uma das estratégias para promovê-lo, trabalho para o qual contribuímos no Instituto iungo.

Destaco especialmente a Estratégia 16.6, que incentiva cursos de formação inicial e continuada focados em temas como educação integral, ambiental, das relações étnico-raciais e anticapacitista. Essas abordagens não apenas ampliam o repertório dos educadores e sua atualização profissional, mas também contribuem para a construção de uma educação mais equitativa, cidadã, inclusiva e que faça sentido para os estudantes.

É preciso atrair novos professores

Você consegue imaginar uma escola sem professor? Apesar da importância do professor no aprendizado dos estudantes ser evidente, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Educação (MEC), a taxa de evasão em cursos de licenciatura (que é um dos caminhos mais importantes de formação acadêmica de professores da educação básica) é de 49,2%. Na área de exatas, o porcentual é ainda maior: 62,9%.

Diante do risco de haver um déficit de professores em algumas regiões do Brasil nas próximas décadas, o programa “Mais Professores”, lançado pelo MEC na semana passada, traz à tona essa urgência de atrair, reter e valorizar esses profissionais. Segundo o Ministério da Educação, o programa irá beneficiar 2,3 milhões de professores e impactar mais de 47 milhões de estudantes, promovendo mudanças que vão desde a criação da Prova Nacional Docente – que subsidiará processos de seleção – passando pelo incentivo à licenciaturas por meio de bolsas e ações de formação continuada. Embora não seja capaz de solucionar todos os desafios que enfrentamos na educação brasileira, trata-se de um conjunto de medidas importantes, que reconhecem o papel crucial dos professores no sucesso das políticas educacionais, alinhando-se às recomendações internacionais para fortalecer e valorizar a profissão.

A escassez de professores é uma realidade enfrentada por muitos países. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, problemas como baixa remuneração e falta de incentivos têm afastado educadores das salas de aula. No Brasil, o cenário é igualmente ou ainda mais desafiador. Dados da OCDE indicam que o salário médio de um professor brasileiro é 47% inferior à média internacional. Essas questões reforçam a necessidade de investir em formação e criar condições de trabalho que atraiam e retenham talentos.

Tendo esse cenário em vista, o novo Plano Nacional de Educação e programas como o Mais Professores estão em sintonia com recomendações da Unesco, que destacam a importância de valorizar e profissionalizar o magistério, além de promover a inclusão e a sustentabilidade.

Foi com esse olhar em profundidade para os desafios educacionais históricos que o Instituto iungo abraçou o compromisso de trabalhar por uma educação de qualidade para todos. Atuamos COM os professores – ou seja, em colaboração e a partir de suas necessidades – na promoção de programas de formação continuada que amplificam o impacto positivo dos professores em sala de aula.

Com o Dia Internacional da Educação (24/01), temos a oportunidade de renovar nosso compromisso com o fortalecimento das políticas públicas voltadas ao desenvolvimento profissional docente. Que 2025 seja um ano de avanços concretos, consolidando a educação como a base para o HOJE e o futuro que queremos construir.

*Paulo Andrade é pesquisador e presidente do Instituto iungo. Este artigo foi publicado originalmente no portal da Itatiaia.

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