Como você aprendeu a andar de bicicleta?

Imagine comigo, agora, uma sala de aula. Como os conhecimentos são aprendidos? Há um único modo de ensinar? É sobre isso que vamos conversar!

por Paulo Emílio de Castro Andrade*

Devo confessar: minha experiência foi um tanto traumatizante. Tinha 8 anos de idade e peguei, sem ninguém saber, a bicicleta do meu irmão mais velho. Depois de algumas tentativas, consegui me equilibrar sobre as duas rodas. Mas, no fim da rua da minha casa, virei à esquerda e tinha uma ladeira. O freio não estava funcionando, tomei um tombo daqueles e acabei com o braço engessado!

Há quem aprenda sozinho (e sem traumas!), com ajuda do pai, da mãe ou do irmão. Tem professor de bike e recentemente criaram uma bicicleta sem pedal, para que a criança aprenda a se equilibrar. São muitos os caminhos, mas, no final das contas, as pessoas aprendem a pedalar.

Imagine comigo, agora, uma sala de aula. Como os conhecimentos são aprendidos? Há um único modo de ensinar? A resposta é não! Na escola, vivenciamos caminhos diversos de aprender: na infância, por exemplo, ao chegar à sala de aula, somos recebidos em uma grande roda. Essa roda tem o papel de nos acolher, de provocar a perceber que somos parte de um todo, a construir o entendimento de que o outro existe, é diferente de nós e faz diferença no mundo. Na roda, partilhamos histórias, vontades, ideias, dificuldades, experiências.

O tempo passa e esse tipo de situação fica mais rara. Adolescentes e jovens, muitas vezes, aprendem “assistindo aula”, ouvindo seus professores apresentarem conteúdos importantes, fazendo perguntas para tirar dúvidas, estudando sozinhos ou com colegas, realizando o famoso “para casa” etc. Esse “jeito” de ensinar e aprender é tão usual que eu já vi professores que propõem outros modos de trabalhar os conhecimentos com seus alunos serem questionados: quando a aula vai começar?

Pergunto: se as pessoas são tão diferentes entre si, será que adotar um conjunto restrito de situações na escola vai possibilitar que todas as crianças, adolescentes e jovens aprendam? Claro que não. Há um vasto repertório de situações que os alunos podem vivenciar para se desenvolverem.

Dou exemplos: certa vez assisti a uma aula da professora Claudia, do Rio de Janeiro. Ela ensinava Física e, durante quase duas horas, só fez perguntas aos seus alunos. Assim, acionou os conhecimentos que eles já tinham e provocou-os a construir novos. Não entregava nada “de bandeja”. Tem também a professora Denise, de Matemática, que organizava grupos de 6 alunos e propunha problemas de alta complexidade. Um ajudava o outro e, juntos, resolviam os problemas. Ao final, um representante de cada grupo ia até o quadro para mostrar como tinham conseguido a solução. E a professora evidenciava os vários caminhos possíveis de se chegar à resposta correta. Aprenderam, e muito!

E você: como aprendeu a andar de bicicleta? Como gostava de aprender na escola? Como aprende coisas novas na vida?

*Este artigo foi originalmente publicado no portal da Rádio Itatiaia, na coluna fixa de Paulo Emílio de Castro Andrade. Paulo é presidente do Instituto iungo, professor da PUC Minas e pesquisador do Núcleo de Novas Arquiteturas Pedagógicas da USP.

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