por Alcielle dos Santos*
Você se lembra de uma experiência triste na escola? Esta é uma pergunta que boa parte das crianças, jovens e adultos negros, responderia com um sonoro sim, partindo de uma lembrança em que foram vítimas de racismo.
Infelizmente, episódios de racismo seguem sendo comuns para todos nós, seja como vítimas ou espectadores. Talvez ao ler a pergunta que abre esta coluna: “como você se sente frente ao racismo?”, você também tenha trazido à mente um fato que tenha acontecido consigo ou mesmo que tenha lido recentemente. Uma prova disso está no futebol: quantos dos craques negros já foram vítimas de racismo no Brasil ou em clubes do exterior? Por que nas torcidas desses clubes, ainda há tantas ofensas racistas absurdas?
Durante mais de 300 anos, cerca de 5 milhões de africanos foram sequestrados e transportados para o Brasil. Ao pensarmos em um crime que durou tanto tempo e que tem um número gigantesco de vítimas, começamos a nos aproximar do tamanho do desafio de retirar todas as formas de racismo das estruturas da sociedade – escolas, empresas, torcidas de futebol etc.
Diante disso, precisamos questionar: além da criminalização do racismo, o que fazer na Educação? Um projeto de educação antirracista é uma resposta imediata. Desde 2003, há uma lei nacional para que as escolas ensinem história e cultura afro-brasileira e africana. Aprender sobre a história da negritude na África e no Brasil é fundamental para que se rompa a relação única entre identidade negra e escravidão. Além disso, outros passos foram importantes, como a existência de políticas públicas para ampliar o acesso da população negra às universidades.
Porém, há mais a se fazer além do reconhecimento da contribuição dos negros à constituição da sociedade brasileira ou mesmo da superação do abismo de desigualdade, criado por três séculos de escravidão. Isso pode e deve começar nas escolas, ao mesmo tempo em que precisa acontecer também nas famílias. Um projeto de educação antirracista precisa incluir reconhecimento da diversidade dos estudantes, estudo histórico e cultural (música, literatura, dança e arte negra), mas também uma mudança de atitude em relação à diversidade de raças que, para acontecer, necessita de ampla discussão do tema do racismo em todas as suas manifestações. Nesse sentido, a educação antirracista alia-se ao conceito de Educação Integral, tema da minha primeira coluna.
Mais de 70% das crianças e adolescentes em idade escolar no Brasil são pretas e pardas*. Logo não podemos apenas nos sentir mal, é preciso ser e construir a mudança, ou sempre teremos racistas ao nosso lado na arquibancada.
Fonte: https://www.cenpec.org.br/noticias/recriar-escola-equidade-etnico-racial
*Este artigo foi originalmente publicado no portal da Rádio Itatiaia, na coluna fixa de Alcielle dos Santos. Alcielle é diretora de educação do Instituto iungo, doutora em Psicologia da Educação e mestre em Educação: Formação de Formadores.