por Alcielle dos Santos*
A inclusão de todos os alunos nas escolas regulares, sem exceção, é direito constitucional, detalhado em leis específicas.
Certamente, alguns dos leitores já ouviram expressões como “nem todos foram feitos para estudar” ou “alguns nascem para trabalhar e não para estudar”. Até os anos 80, era muito comum que alguns alunos ficassem no fundo da sala sem prestar atenção nos seus professores e que colegas os rotulassem como incapazes de aprender. Também era muito difícil encontrarmos crianças e jovens típicos – sem deficiência e atípicas – com deficiência (Autismo, Síndrome de Down, deficiências físico-motoras e outras) em uma mesma turma.
Desde que educadores, pesquisadores, crianças e jovens com deficiência e seus familiares conquistaram garantias legais que assegurassem seus direitos, redes de ensino, escolas e educadores se tornaram responsáveis por acolher e oferecer condições de aprendizagem ajustadas às necessidades de aprendizagem de cada um de seus estudantes. Esta determinação gerou discussões sociais importantes como a convivência com a diversidade, desde a infância. Dificilmente encontramos quem se oponha à inclusão, mas no cotidiano da sala de aula, encontramos dimensões bastante desafiadoras sobre as quais precisamos dialogar como sociedade para vencê-las com união e compreensão.
Incluir requer pensar como podemos eliminar o que impede e o que dificulta a aprendizagem, que podem ser barreiras físicas (escadas) ou de comunicação (uma pessoa que não escuta e não tem recurso de apoio). Isso significa investimentos em novos recursos e tecnologias, acessibilidade dos espaços, formação de todos os profissionais que atuam junto aos estudantes, mas também muito afeto e compreensão de que se trata de um projeto em construção com cada uma das crianças, na medida em que se diferenciam. O tema da inclusão tem sido abordado na formação inicial e continuada dos professores, mas a sensibilidade do olhar, do ouvir e do conviver com cada criança é fundamental para mediação da aprendizagem, incluindo as particularidades de cada indivíduo.
Um outro ponto importante, para o qual cabe uma analogia, diz respeito à adoção de estratégias diversificadas. Em casa, se um familiar precisa fazer uma dieta com pouca gordura e açúcar, isso provoca que se aprendam novas receitas, conheçam novos alimentos e que se mude o cardápio. E isso não será bom apenas para aquele que precisa cuidar da alimentação por questões de saúde, será positivo para todos que passarem a se alimentar melhor naquela família! O mesmo se dá em sala de aula, quando uma professora adota diferentes maneiras para alfabetizar ou para ensinar a calcular, todos ganham, ninguém perde. Na diversidade, atende-se mais e melhor cada um e a todos.
Abrir-se a acolher o outro, não importa quem seja, é um desafio para toda a sociedade que pode e deve ser aprendido nas escolas.
*Este artigo foi originalmente publicado no portal da Rádio Itatiaia, na coluna fixa de Alcielle dos Santos. Alcielle é diretora de educação do Instituto iungo, doutora em Psicologia da Educação e mestre em Educação: Formação de Formadores.