Paulo Emílio de Castro Andrade*
Vai chegando o fim do semestre e com ele, as provas! Isso me faz lembrar do frio na barriga que me dava naquelas tão temidas semanas de prova da minha escola, algumas décadas atrás. Tensão, suadeira, insegurança. Tão difícil quanto fazer todas aquelas provas, era o dia em que os professores as devolviam corrigidas, muitas vezes com grandes marcas vermelhas que sinalizavam todos os meus erros.
Afinal, por que fazemos provas na escola? O que queremos que os alunos nos provem? É fácil concluir que uma prova serve para os alunos mostrarem o que aprenderam, após realizarem atividades escolares (aulas, sobretudo), ao longo de determinado período (um bimestre, um semestre, um ano). Fazer prova, nesse sentido, é um exercício de demonstração do que ficou para cada aluno. Ou seja, a prova pode funcionar como uma fotografia do desenvolvimento dos estudantes.
Aí, vem outra pergunta: o que se faz com essa fotografia? Bem, a prova tem que valer muito mais do que apenas gerar uma “nota” para cada aluno, apesar de ser o que muitas vezes acontece. Essa avaliação pode ser entendida pela escola como ponto de partida para o professor definir o que e como vai trabalhar com os alunos, na sequência. Fazendo uma analogia com o futebol: um treinador leva em conta o que aconteceu no jogo anterior para realizar os treinamentos da semana e para definir a escalação e o esquema tático do próximo jogo. No caso da escola, os acertos e os erros de cada aluno em uma prova são ponto de partida para o professor planejar e executar suas próximas aulas. Com aquele “diagnóstico” em mãos, ele analisa o que realmente cada aluno compreendeu e não compreendeu, identifica novas necessidades em relação ao que foi ensinado e pensa em estratégias para garantir que todos avancem dali em diante.
Mais uma questão para nossa conversa: é só por meio de provas, com suas perguntas abertas e fechadas, que os alunos podem expressar os conhecimentos aprendidos e pontos de vista construídos sobre o que foi ensinado? É evidente que não. Prova é um dos instrumentos importantes à disposição do professor e pode ser trabalhada de várias formas: individual e em dupla, com e sem consulta, por exemplo. Mas há uma variedade enorme de outras possibilidades, não para substituir mas para conjugar com a prova: realizar uma apresentação oral individual ou coletiva para os colegas de turma e o professor, construir um jogo sobre os conhecimentos que estão sendo trabalhados, produzir uma reportagem sobre a temática em estudo e tantos outros caminhos, que podem conviver com a prova. Em todos esses exemplos, os alunos são convocados a expressar o que sabem e o professor a analisar o que foi conquistado e o que falta aprofundar. A avaliação passa a ser caminho para o aluno aprender mais. Assim, deixa para trás a tão consolidada compreensão de que se deve estudar e aprender apenas para ir bem na prova.
*Este artigo foi originalmente publicado no portal da Rádio Itatiaia, na coluna fixa de Paulo Emílio de Castro Andrade. Paulo é presidente do Instituto iungo, professor da PUC Minas e pesquisador do Núcleo de Novas Arquiteturas Pedagógicas da USP.