Projeto sobre biomas e comunidades maranhenses realizado com apoio do programa Itinerários Amazônicos inspira transformações em estudantes

Com perspectiva interdisciplinar, projeto envolveu alunos do Ensino Médio em apresentações, debates e atividade em campo

Quando surgiu a ideia de um projeto interdisciplinar no Centro de Ensino Antônio Sirley de Arruda Lima, em Formosa da Serra Negra, interior do Maranhão, Daniel Leda, professor de História, sugeriu trabalhar com biomas. Duas questões o motivaram nessa escolha. “Primeiro, era tirar a falsa ideia de que biomas só podem ser trabalhados na Geografia, Biologia, por exemplo. O tema pode ser abordado de forma interdisciplinar. E o programa Itinerários Amazônicos mostrou que isso era possível. Outro motivo foi de cunho pessoal. Como venho de uma universidade pública, onde a minha formação está ligada às questões da comunidade, de pesquisa sobre os povos tradicionais, vi que os biomas seriam um ótimo gancho para levar essa perspectiva para os alunos”, explica o professor.

Homem posando para a foto.
Daniel Leda, professor de História. Foto: acervo pessoal

Daniel tem uma trajetória recente na docência. Hoje com 26 anos, ingressou na universidade aos 19. Entre o Direito e o curso de História, havia a certeza que, independente de qual seria a graduação, seu desejo era lecionar. E foi isso que ele fez, ao decidir pela faculdade de História. Assim como outros professores da rede de ensino do Maranhão, ele participou das ações formativas do Itinerários Amazônicos. Daniel é um dos mais de 42 mil professores impactados pelo programa, desde a implantação, em 2023.

“Eu vejo o Itinerários Amazônicos como essencial. Eu olhava o material, selecionava o conteúdo e pensava em como trabalhar com eles, tendo em vista as metodologias disponibilizadas. Em uma aula onde discutimos sobre a produção de farinha, por exemplo, aproximei os alunos das famílias que já trabalham com isso. Eles pesquisaram em casa, se aprofundaram na cultura, na economia local e levaram para a sala. O programa nos conectou ainda mais com os estudantes e as suas realidades. Eles também interagem mais entre si, ampliando essa rede de conhecimento. Sem contar na importância para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), elenca o professor.”

O projeto “Biomas do Brasil: interações históricas, saberes tradicionais e tecnologias sociais” foi desenvolvido com base no conceito de “bem viver”. Presente nas culturas ameríndias, propõe uma outra forma de viver o meio ambiente, a espiritualidade e a coletividade, com igualdade e equidade.

Depois da pesquisa, que envolveu as três séries do Ensino Médio na compreensão histórica dos biomas maranhenses, os estudantes partiram para a prática. A proposta foi conhecer o trabalho das mulheres quebradeiras de coco babaçu de perto, no local onde atuam. As quebradeiras estão presentes, em geral, nos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Pará, e se ocupam da colheita e extração artesanal do coco babaçu. A palmeira do babaçu é conhecida como a ‘mãe das quebradeiras de coco’, com aproveitamento dos frutos, folhas, raízes e caule no artesanato, na gastronomia, na fabricação de medicamentos e outros.

A turma da 3ª série aprendeu sobre História oral para, em seguida, conversar pessoalmente com uma quebradeira da região, de forma objetiva e cuidadosa. Com a 2ª série, o professor de História levou um documentário para assistir com os alunos sobre as trajetórias dessas mulheres que perpetuam essa tradição do Norte e Nordeste do país.

Os estudantes da 1ª série estudaram sobre a cartografia social. Daniel explica que essa é uma herança das comunidades tradicionais que nos ajuda a entender a formação de identidades e territorialidades. Por meio de uma oficina interativa, os estudantes representaram a ambientação de alguns povoados, chácaras e bairros de Formosa da Serra Negra. “Eles entenderam que não é só mapear, é construir a identidade daquele lugar. Quando você não vê a sua casa, seu bairro, é como se a sua identidade, a sua história, não existissem. Cada espaço tem uma identidade”, comenta.

Celiano Júnior em foto beira-mar
Celiano Júnior é um dos alunos que trabalhou com os biomas. Foto: acervo pessoal

Celiano Francisco Cavalcante da Silva Júnior, de 16 anos, é um dos alunos do Daniel que trabalhou com biomas. O jovem conta que houve um estranhamento no início, mas com o desenrolar da pesquisa, conheceu mais a fundo as riquezas do estado e da cidade onde vive. Para Celiano, o empenho dos alunos e a repercussão positiva do projeto são resultado da dedicação do professor em explicitar a importância do tema e do aprendizado com o programa Itinerários Amazônicos. “O Daniel trouxe algo a mais para as aulas. Ele quer realmente ensinar, sabe o que está fazendo e gosta do que faz. Isso fez diferença na hora de estudar sobre a Amazônia; eu pensava que era só sobre floresta e plantas. Mas quando o Daniel aprofundou com a gente nos materiais do programa Itinerários Amazônicos, vimos que era muito mais que isso. Fala da cultura, da economia, da saúde, foi muito mais do que a gente esperava”, explica o estudante.

O impacto do Itinerários Amazônicos na formação docente e no aprendizado dos estudantes

Por meio do projeto, os estudantes compreenderam melhor a coletividade, a importância do envolvimento entre sociedade civil e poder público, o valor dos saberes ancestrais e a necessidade de conservação. Segundo Daniel, os conteúdos do programa contribuíram para essa visão mais ampla do território. “A flexibilidade dos materiais nos permite falar da nossa realidade, provocando maior interesse dos alunos. O Itinerários Amazônicos tira a gente também do comum, nos incentiva a criar aulas engajadoras e mais criativas”, diz o educador.

O trabalho do Daniel exemplifica a relevância de apoiar as redes de ensino na construção de formações de excelência. Esse é um dos pilares do Instituto iungo, nestes 5 anos de existência — atuar pelo desenvolvimento profissional de educadores, em colaboração com as redes de ensino públicas, levando em consideração as especificidades de cada território e respeitando a autonomia. Desde 2020, mais de 330 mil professores já foram alcançados em programas de formação do iungo.

Maria Paula, estudante, em uma sala posando para a foto.
Maria Paula passou a se interessar mais por História com as aulas do professor Daniel. Foto: acervo pessoal

O professor de História mostra outro princípio presente nas ações do Instituto junto às redes públicas de ensino: o incentivo à autoria docente na construção de práticas de ensino conectadas com a escola e, sobretudo, à construção dos projetos de vida dos estudantes. A Maria Paula Santos, de 17 anos, aluna do Daniel, ressalta esse interesse do professor em conhecer o contexto dos colegas e do apoio para que eles se mantenham firmes nos estudos. Nas palavras da estudante, “eu não tinha motivação para estudar História. Isso mudou quando passei a ter aulas com o professor Daniel, a didática, o interesse dele pela disciplina e em saber do nosso aprendizado, além do apoio que ele nos dá para o Enem. Ele nos motiva a estar de fato nas aulas, é criativo. Percebemos o quanto ele ama a profissão e incentiva nossos sonhos.”, afirma.

A gestora auxiliar do Centro de Ensino Antônio Sirley de Arruda Lima, Luísa Neta, comenta sobre o trabalho de Daniel e o impacto do projeto sobre biomas na escola. “É extremamente significativo observar um educador como o Daniel, que não apenas domina o conteúdo de História, mas também se dedica a construir uma relação próxima, respeitosa e motivadora com seus alunos. Esse tipo de postura revela um profissional que entende que educar é formar cidadãos críticos, conscientes e participativos. Isso gera reflexos positivos na comunidade escolar, que passa a enxergar a escola como um lugar onde há compromisso real com a formação integral dos jovens.”

Luísa Neta, de blusa preta em pose pra foto.
“É extremamente significativo observar um educador como o Daniel, que se dedica a construir uma relação respeitosa e motivadora com seus alunos”, afirma Luísa. Foto: acervo pessoal

A docência como propósito e legado

A trajetória do Daniel mostra como formações de excelência impactam não só não só os educadores mas também a aprendizagem dos estudantes. O professor afirma que o programa foi fundamental para entender o papel de pesquisador e de professor. “A partir do conhecimento construído com o programa, eu consigo articular a teoria com a prática. Eu almejo construir uma carreira consolidada, ter estabilidade. Penso em fazer doutorado e amo a sala de aula! Uma coisa é certa, estou sempre em busca de formações continuadas, como as do iungo, pois sei que não posso ficar estagnado”, completa.

Mesmo diante dos desafios, como a docência durante a pandemia, o comprometimento e a busca por inovação metodológica foram constantes. Essa dedicação é um legado de sua mãe, Sônia Maria, também educadora incansável no interior do Maranhão, que lhe transmitiu o valor da profissão e a importância de transformar vidas através da educação.

Daniel cresceu vendo a mãe dedicada a transformar a vida de estudantes. “Minha mãe foi professora e diretora escolar. É formada em letras pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e fez pós-graduação. Dava aula de tudo, se dizia alfabetizadora”, comenta com um semblante orgulhoso. “A gente via minha mãe se virando ‘nos trinta’, em todos os papéis que ela exercia, sem contar nas diferenças de gênero; e ainda assim, ela é uma apaixonada pela profissão”, conta.

Daniel ao lado da mãe com um prêmio pelo seu trabalho.
Daniel segue os passos da mãe, também professora. Foto: acervo pessoal.

 

O trabalho do Daniel e de tantos outros professores impactados pelas ações do iungo reforça o compromisso do Instituto com a educação de qualidade. Transformar a educação é um fazer coletivo, que exige escuta, diversidade de ideias, valorização dos professores e conhecimentos construídos de forma contextualizada para a promoção de uma aprendizagem que seja acessível e significativa para os mais de 47 milhões de estudantes brasileiros.

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