Educação antirracista: formadora do Amazonas recebe prêmio

Participante do programa Itinerários Amazônicos desenvolveu pesquisa sobre práticas pedagógicas voltadas à valorização da mulher

Desde a infância e a educação básica, quando ela mesma viveu experiências de discriminação e dúvidas em relação a seu potencial, até a chegada à pós-graduação, a professora formadora Silvana Oriente, de Manaus (AM), procurou desenvolver possibilidades de uma educação cidadã, antirracista e que estimule as potencialidades de todos e todas, principalmente as mulheres negras.

“Minha história de vida está totalmente entrelaçada com a educação. Durante a educação básica, vivi algumas das mais duras experiências da minha vida. Como uma menina negra, ribeirinha, gorda e pobre, fui exposta a cenas de preconceito e discriminação que me tornaram uma criança e uma adolescente retraída, invisibilizada e com baixa confiança em meu potencial intelectual. Por outro lado, foi também na escola que eu encontrei a possibilidade de lutar por uma educação cidadã, antirracista e que estimule as potencialidades de todos e todas, principalmente as mulheres negras, que assim como eu sofreram e/ou sofrem com diversos tipos de discriminação.”

Com origem indígena e negra, Silvana desenvolveu a dissertação de mestrado “Políticas públicas educacionais que amparam práticas pedagógicas voltadas à valorização da mulher no Estado do Amazonas”, com orientação da professora doutora Maria Isabel Alonso Alves. A pesquisa, que traz a vivência da formadora, a legislação educacional que trata de gênero e analisa uma prática pedagógica inspiradora realizada em Manaus, foi escolhida a melhor dissertação de 2022 pela Universidade Federal do Amazonas.

“Minha origem híbrida relacionou-se a situações de confusão quanto aos meus costumes e tradições. Havia um choque de culturas dentro da minha casa, e eu não conseguia encontrar uma explicação nem na escola, nem na mídia, que refletiam uma cultura branca e europeizada. E foi exatamente esse contexto, que eu só compreendi com mais precisão na universidade, que me fez valorizar uma pedagogia multi e intercultural, para que os estudantes tenham conhecimento sobre a pluralidade que constitui a nossa sociedade e, desse modo, possam compreender e valorizar suas raízes e dos seus pares”.

 

 

Itinerários Amazônicos
Silvana, que é formadora no Centro de Formação Profissional Pe. José Anchieta (CEPAN – Amazonas), participou de oficinas do programa Itinerários Amazônicos e ressalta a importância da formação dos professores no contexto da Amazônia Legal e do antirracismo.

“O programa Itinerários Amazônicos nos apresenta algumas possibilidades para pensarmos uma escola antirracista, que reconhece e valoriza as diversidades. Ele sugere temas que trazem para a discussão diversas possibilidades artísticas e culturais, que permitem conexões com os mais variados contextos. Essa liberdade para possíveis ampliações estimula a autonomia criativa do professor, bem como abre margem para que o estudante haja ativamente na construção da sua aprendizagem”.

O programa, lançado oficialmente em agosto de 2023, foi construído de forma colaborativa com um grupo de 120 pessoas, composto em sua maioria por gente que nasceu ou vive nas diversas Amazônias que existem dentro do território. A iniciativa disponibiliza gratuitamente materiais pedagógicos sobre temas amazônicos para os itinerários formativos do Ensino Médio e realiza formação continuada junto aos educadores das secretarias estaduais parceiras dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Roraima e Tocantins para implementação nas escolas.

Itinerários Amazônicos é uma realização conjunta do Instituto iungo, do Instituto Reúna e da rede Uma Concertação pela Amazônia, em parceria e com investimentos do BNDES, Fundo de Sustentabilidade Hydro, Instituto Arapyaú, Movimento Bem Maior e patrocínio da Vale. Conheça: itinerariosamazonicos.org.br

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