Shana Sitta é professora de projetos de vida no Ensino Médio da Escola Estadual Tancredo de Almeida Neves em Chapecó (SC). Dava aulas de química e também assumiu, em 2017, o componente de projetos de vida. Em 2022 é o primeiro ano em que leciona somente Projetos de Vida. Shana também é formadora de professores do iungo para o tema de Projetos de Vida.
Como você começou a dar aulas de Projetos de Vida?
No início, não foi uma escolha pessoal. Quando minha escola se tornou piloto do Novo Ensino Médio catarinense, era preciso professores de Projetos de Vida. A equipe discutiu o perfil mais adequado e acabei sendo uma das escolhidas. Depois de um semestre, já me identifiquei totalmente com esse componente, porque compreendi o papel dos Projetos de Vida para o desenvolvimento integral do sujeito. Como professora de química eu focava muito no letramento científico, que também é muito importante, mas eu não tinha esse olhar integral.
O que é esse desenvolvimento integral?
Então, é uma construção de diversas dimensões do indivíduo na escola. Neste componente, a gente aborda sempre três principais: a pessoal, a social e a profissional. Quando a gente fala de Projetos de Vida, dá a impressão de projetar todo o futuro, principalmente a carreira. Mas o profissional é apenas uma das dimensões do sujeito. A gente tem que considerar a dimensão pessoal e a social também e tudo está interligado. Por exemplo, quando o estudante desenvolve a sua dimensão pessoal, desenvolve autoconhecimento, reflete sobre sua identidade, suas habilidades e suas competências que vão ajudar nas outras dimensões da vida.
Como é o diálogo com os outros componentes e com os outros conteúdos da escola?
As formações de projetos de vida da minha escola foram feitas com todos os professores e isso facilita o diálogo. Utilizamos, nas aulas de projeto de vida, objetos, habilidades e competências das áreas de conhecimento. Por exemplo, quando nós trabalhamos as emoções, eu trago aspectos da neurociência, da química do cérebro, partindo da visão das ciências da natureza. Quando a gente trabalha os recortes sociais a gente aborda o conhecimento das ciências humanas, da sociologia. Essa integração é bastante facilitada porque os professores compreendem a importância dos projetos de vida.
Como você prepara suas aulas?
Na formação da equipe docente, nós construímos em conjunto uma visão de projetos de vida, que foi inserido no projeto político pedagógico da escola. Hoje somos cinco professores de projeto de vida planejando juntos, para as três séries do Ensino Médio. Nos reunimos e fazemos toda sequência didática, aula a aula. Optamos, na primeira série, por focar em autoconhecimento, na dimensão pessoal: reconhecer as potencialidades, as habilidades que cada aluno quer desenvolver. Na segunda e terceira série a gente amplia para as outras dimensões, a social e a profissional.
Tem alguma história como professora de Projetos de Vida que te marcou?
Tem várias, mas para destacar uma, teve uma aluna que foi minha orientanda de projetos de vida nas três séries do ensino médio. Ela escolheu ser professora, entrou na faculdade de letras e contou que deseja trabalhar com projetos de vida na escola também! Me deu muito orgulho saber que ela quer, além de ser professora, exercer essa função de orientar outros jovens em projetos de vida.
O que você diria para uma professora ou um professor que está começando a trabalhar com esse componente?
O meu conselho é não ter medo de se aventurar nesse mundo de conhecimentos novos e, principalmente, se colocar no papel de estudante. Lembrar como foi sua formação no Ensino Médio e pensar como teria sido construir esses projetos de vida de forma mais significativa. É importante se colocar nesse papel do estudante e planejar como contribuir para a formação de cada um. E a gente sente esse retorno. Por exemplo, os momentos de autoavaliação proporcionam tanto para o aluno quanto para nós professores, a compreensão de que forma o projeto de vida pode contribuir para a formação. Fica mais claro o sentido da escola para todos nós.
Sobre os cursos Cartografias, do iungo, que estão disponíveis online e de graça. Como ele pode apoiar professores de Projetos de Vida?
Eu acho que o grande diferencial do Cartografias, comparando com as formações e materiais a que tive acesso, é que ele é bem amplo. Começa com uma introdução – conceitos, a história do projeto de vida – e vai até a parte mais prática, que é efetivamente compor e organizar uma aula de projetos com bastante intencionalidade. Não é um curso só conceitual ou só prático. É as duas coisas e ajuda bastante o professor.
E os seus projetos de vida?
Eu não refletia sobre projetos de vida antes de trabalhar com projetos de vida! A gente sempre tem objetivos, mas sem muita reflexão do porquê seguí-los ou como isso se encaixava na minha vida como um todo. Conforme fui desenvolvendo esses conhecimentos para trabalhar em sala de aula, eu acabei refletindo também sobre os meus projetos de vida. Essa reflexão me fez perceber que a educação é o caminho em que eu quero prosseguir, sempre buscando qualificação no sentido da educação integral e desenvolvimento integral dos jovens.