Eu tinha apenas 14 anos quando, no auditório da escola em que estudava, aconteceu uma palestra sobre o que seria importante para a educação no século 21, que estava prestes a chegar. O palestrante era o pedagogo mineiro Antonio Carlos Gomes da Costa, um dos responsáveis pela construção do Estatuto da Criança e do Adolescente e que tantas contribuições deu à educação brasileira.

Em determinado momento, o palestrante mencionou as ideias e a visão de educação de um outro educador, o professor colombiano José Bernardo Toro. Disse que uma inspiração importante para as escolas, professores e famílias eram os tais “códigos da modernidade”. Prestei muita atenção para entender do que se tratava.
Para que as novas gerações possam ter uma participação efetiva em seu meio, é preciso garantir condições para que elas desenvolvam um conjunto de 7 capacidades: domínio da leitura e da escrita; fazer cálculos e resolver problemas; analisar, sintetizar e interpretar dados, fatos e situações; compreender e atuar em seu entorno social; receber criticamente os meios de comunicação; localizar, acessar e usar melhor a informação acumulada; e planejar, trabalhar e decidir em grupo.
É verdade que poderíamos atualizar essa lista, 30 anos depois, considerando as tantas transformações pelas quais o mundo passou. Mas é também verdade que os códigos da modernidade propostos por Toro continuam relevantes. Não podemos admitir que um jovem brasileiro saia da escola sem domínio da leitura e da escrita, sem conseguir resolver problemas ou compreender o contexto em que vive e ser capaz de agir nesse contexto. Da mesma forma, precisamos avançar muito na preparação das crianças e jovens no que se refere à interação com as diversas mídias.

Na última semana, realizei um sonho de adolescente: conheci, pessoalmente, José Bernardo Toro. Ele visitou o Instituto iungo e nos presenteou com uma conversa sobre educação e a importância do trabalho dos professores. Foi emocionante perceber que, tanto tempo depois, eu sigo aprendendo com esse grande mestre! Temos, ainda, um sonho em comum a realizar: ver os professores valorizados e a escola promovendo o desenvolvimento integral de todos os seus estudantes. Seguimos construindo esse sonho junto com os mais de 2 milhões de professores do Brasil.
*Este artigo foi originalmente publicado no portal da Rádio Itatiaia, na coluna fixa de Paulo Emílio de Castro Andrade. Paulo é presidente do Instituto iungo, professor da PUC Minas e pesquisador do Núcleo de Novas Arquiteturas Pedagógicas da USP.