Todo mundo tem histórias marcantes que viveu na escola. Uma professora que ensinou algo inesquecível, um grupo de amigos de turma, travessuras, dificuldades em aprender determinado conhecimento e por aí vai. Uma das situações que mais me marcaram como estudante, foi uma palestra dada por um pedagogo mineiro.
Era 1993, eu tinha 14 anos e andava pelos corredores da minha escola. Na parede, um cartaz que divulgava uma palestra. Dizia que o convidado tinha participado da elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente, alguns anos antes. Aquilo chamou a minha atenção, fiquei curioso para saber o que diria alguém que tinha participado da construção de um documento que afetava a minha vida. Decidi ir.
A primeira frase que o professor Antonio Carlos Gomes da Costa disse, em sua palestra, foi: “todas as crianças e adolescentes têm potencial para aprender, para se desenvolver de modo integral. É preciso garantir que todos os estudantes tenham o direito à educação de qualidade assegurado”. Aquilo me marcou para sempre. Educação de qualidade é um direito de todos os brasileiros, está previsto na nossa constituição, mas a verdade é que esse direito ainda está longe de ser garantido para todo mundo.
Hoje é o Dia Mundial da Educação, instituído por líderes de 164 países signatários da UNESCO – incluindo o Brasil, em 28 de abril de 2000, durante o Fórum Mundial da Educação, em Dakar, Senegal. O documento da conferência, que elegeu o tema “Educação para Todos”, reúne objetivos e compromissos para o direito à educação de qualidade. Lá, pensaram estratégias para alcançar esse objetivo.
O Brasil assinou o compromisso e, nesses mais de 20 anos, evoluímos bastante em vários pontos, como ampliar fortemente o acesso das crianças, adolescentes e jovens à escola e avançar no número de pessoas alfabetizadas. Mas temos ainda um longo caminho pela frente, em especial em relação à qualidade.
Uma das estratégias sugeridas na Declaração de Dakar, é “melhorar o status, a auto-estima e o profissionalismo dos professores”. Destaco esse ponto porque é essencial lembrar que é com professores valorizados, com formação consistente, com boas condições de trabalho, que se constrói uma escola boa. Por isso, fortalecer o desenvolvimento dos profissionais da educação é algo tão importante para o país.
O Instituto iungo nasceu para apoiar e valorizar os professores e assim trazer um impacto relevante para a educação do país. Se almejamos uma educação de qualidade para crianças e jovens, é preciso olhar para o professor. Atuamos na formação de quem já dá aulas nas escolas brasileiras, apoiamos redes públicas de ensino e produzimos material pedagógico que os apoiam no dia-a dia, no esforço contínuo de aprimorar o trabalho junto aos estudantes.
Hoje é dia de celebrar a educação do nosso país, mesmo diante de tantos desafios e resultados ainda não alcançados. Se educação é uma prioridade para todos nós, é dia de lembrar do trabalho essencial que os profissionais desse campo realizam. Todos os dias, eles vão até a escola porque acreditam naquilo que ouvi do professor Antonio Carlos, três décadas atrás: todas as crianças, todos os adolescentes têm potencial para aprender. Sigamos apoiando e fortalecendo a atuação das professoras e professores do Brasil!
Paulo Emílio Andrade é presidente do Instituto iungo, professor da PUC Minas e pesquisador do Núcleo de Novas Arquiteturas Pedagógicas da USP.