As desigualdades socioeconômicas que atingem os brasileiros mostram ainda mais disparidades quando fazemos o recorte de raça e gênero. Para se ter uma ideia, as mulheres negras correspondem a 28,5% da população brasileira, ou seja, 60 milhões de pessoas (Fonte: Pnud-2024); elas são maioria nas chefias de famílias, mas representam apenas 16% do rendimento total.
No momento em que olhamos para a educação, o cenário de diferenças persiste. Segundo a Pnud 2024, mulheres ou homens negros adultos, sem nenhum grau de escolaridade ou o ensino fundamental incompleto, correspondem a 35%. Brancos, nesse quesito, são 25%. Outra evidência: com a pandemia de Covid-19, estudantes negras foram as mais afetadas na dificuldade de acesso às aulas, se comparadas a estudantes brancas. O panorama foi observado na pesquisa “A educação de meninas negras em tempos de pandemia”, realizada pelo Geledés Instituto da Mulher Negra. E para além da educação básica? Um levantamento feito pela organização brasileira Parent in Science apresentou que das 16.108 bolsas de produtividade do CNPq em julho de 2023, 64,4% foram destinadas a homens e 35,6% para mulheres (sendo 31,3% mulheres brancas; 0,1% mulheres indígenas; 0,8% pretas e 4,8% mulheres pardas).
Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha
Esses são apenas alguns exemplos de como as desigualdades de raça e gênero se manifestam, inclusive na educação. Enfrentá-los, a fim de promover equidade, passa por um trabalho intersetorial que invista tanto no acesso quanto na permanência da população negra nas escolas e no ensino superior. Essas e outras reivindicações estão no radar de mulheres negras, que se unem e buscam estratégias em movimentos como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, definido durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, realizado na República Dominicana, em 25 de julho de 1992.
Em 2014, o Brasil incluiu nessa data o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, marcando um reconhecimento à mulher que governou o Quilombo do Quariterê, próximo a atual cidade de Cuiabá (MT), entre 1750 e 1770. Para Alcielle dos Santos, diretora de Educação do iungo, “a equidade racial também é construída em processos educativos, na formação das professoras e professores, para que ocupe as escolas brasileiras”. O trabalho no iungo para o desenvolvimento profissional dos educadores parte da premissa de promoção da equidade na educação. Assim, considera a diversidade e singularidade dos professores e estudantes brasileiros, seja para o planejamento e realização de ações de formação continuada ou desenvolvimento de materiais pedagógicos em colaboração com as redes públicas de ensino.
Projetos e práticas antirracistas prosperam entre educadores brasileiros
Desse modo, a Residência EntrePares, realizada pelo Instituto iungo em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Nova Lima (MG), foi um espaço formativo propício para quatro professoras desenvolverem o projeto Ubuntu. A proposta busca promover a sensibilização da comunidade escolar para construção coletiva de um Plano de Educação para as Relações Étnico-Raciais.
Uma outra iniciativa do iungo, o programa Itinerários Amazônicos, que é correalizado pela rede Uma Concertação pela Amazônia e pelo Instituto Reúna e tem o objetivo de povoar de Amazônias as escolas brasileiras, também traz propostas que se aplicam a esse contexto. O módulo Povos amazônidas: tecnologias ambientais e diferentes perspectivas de desenvolvimento, do material pedagógico da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadadas, convida os professores a apresentar e propor aos estudantes reflexões sobre o racismo ambiental e seus desdobramentos. Aspectos culturais, históricos e relacionados a projetos de vida presentes no material também têm inspirado educadores de vários estados no desenvolvimento de práticas de educação para as relações étnico-raciais. Alguns desses relatos estão no nosso Instagram, toque aqui e conheça!
Desde 2022, o iungo realiza ainda a campanha permanente #ConscienteOAnoInteiro nas redes sociais, com indicações de materiais, experiências de alunos, relatos de educadores e especialistas no contexto da educação para as relações étnico-raciais. A ideia é mostrar que o antirracismo deve estar presente nas escolas o ano inteiro; para além do Dia da Consciência Negra (20/11).
Além disso, aqui no blog, também temos outras sugestões de conteúdos para pensarmos, juntos, uma educação antirracista e que contribua para reduzir as desigualdades de raça e gênero.
8 posts com reflexões, artigos, podcasts e relatos de práticas antirracistas no contexto escolar para você se inspirar:
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