A história do Instituto iungo com a educação do estado do Tocantins, na região Norte do Brasil, começa em 2022 e se concretiza em 2023, com a implementação do programa Itinerários Amazônicos. Por meio da formação continuada para os professores e materiais pedagógicos, essa iniciativa promove a abordagem de temas amazônicos, em toda sua complexidade, nas escolas brasileiras.
Uma premissa do programa é a de que educadores e estudantes são agentes de transformação e desenvolvimento sustentável dos territórios em que vivem. No Tocantins, essa ideia se materializou de muitas formas, extrapolando até mesmo o contexto inicial da parceria. Vamos conhecê-las?
Diálogos amazônicos e projetos de vida
Em 2023, os diálogos com a Secretaria de Estado da Educação do Tocantins (Seduc-TO) tinham o objetivo de planejar a implementação das unidades de todas as áreas do conhecimento do Ensino Médio no programa Itinerários Amazônicos. Esse processo rendeu muitos frutos e levou a dois resultados visíveis:
- a implementação do programa junto aos professores da rede;
- a construção conjunta do documento orientador para o trabalho com projetos de vida na rede estadual do Tocantins;
- o desenvolvimento de uma relação de parceria que é um verdadeiro exemplo de colaboração e valorização dos professores da rede — até o momento, 1.011 professores e gestores escolares participaram das formações.
Para entender mais sobre isso, vamos conhecer as professoras Gabriela e Iane.
Gabriela Fernanda do Carmo é diretora de Currículo e Avaliação de Aprendizagem na Seduc-TO. An
tes de assumir o cargo, em janeiro de 2024, ela atuava na rede estadual como professora e gestora escolar e na secretaria de educação como técnica e, em junho de 2023, como gerente do Ensino Médio. Nesse período, ela concluiu duas formações realizadas pelo iungo:
- a formação “Projetos de vida e o Bom Professor” do programa ATIVAR!, ofertada em parceria do iungo com o Núcleo de Pesquisas em Novas Arquiteturas Pedagógicas da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (NAP-USP);
- os cursos Cartografias iungo — “Mapas de Projetos de Vida” e “Planejando Aulas de Projetos de Vida”. Por ter sido uma das primeiras a concluí-los, Gabriela foi selecionada para um encontro on-line com a equipe do Instituto iungo para dividir experiências e tirar dúvidas sobre o trabalho com projetos de vida na escola.
Ponto de virada e projetos de vida na escola
Essas oportunidades foram um ponto de virada para o trabalho de Gabriela na rede. Ainda na Gerência de Ensino Médio, ela divulgou os cursos e a bibliografia para as equipes e regionais e colocou em movimento um novo projeto: a construção do documento orientador para o trabalho com projetos de vida na rede do Tocantins.
Para isso, um grupo de trabalho com técnicos, professores e especialistas nas modalidades de educação indígena, quilombola, do campo, especial e educação de jovens e adultos (EJA) foi criado. Como já conhecia a forma de trabalhar do iungo, Gabriela convidou o Instituto para apoiar os estudos sobre projetos de vida. A partir daí, uma série de encontros formativos, realizados entre setembro e novembro de 2023, alimentou a redação do documento desenvolvido pela Seduc-TO. A construção do material, que aborda as habilidades e os objetos de conhecimento de acordo com as etapas e séries trabalhadas pelos educadores, gerou um grande impacto.
Abrir os horizontes, olhar para os estudantes em perspectiva integral
De acordo com a professora Gabriela, a rede era muito heterogênea em relação ao trabalho com projetos de vida nas escolas. “Algumas escolas desenvolviam trabalhos extensos, mas outras ainda tinham poucas ações. Esse processo de construção, em parceria, favoreceu um amadurecimento da rede e um entendimento de que trabalhar com projetos de vida não é apenas trabalhar um componente curricular, e sim olhar para os estudantes, para as suas realidades e abrir os horizontes. E também pensar no próprio projeto de vida, enquanto educador. O profissional que mergulha nessa área transforma-se e age para colaborar com a transformação da comunidade escolar”, resume a diretora.
Além da forma colaborativa de trabalhar, ela destaca que a relação de parceria com o iungo é caracterizada pela reflexão e respeito em relação à realidade e diversidade regional. “Ficamos muito felizes com a qualidade da articulação, da formação e das referências do Instituto iungo”, completa. “Se em 2022 estávamos no nível 2 em relação ao trabalho com projetos de vida em toda a rede, em 2023 já chegamos ao nível 6. E agora em 2024 caminhamos para alcançar uma nota 10”, brinca Gabriela.
Valorização dos professores
Iane Dias de Oliveira assumiu a Gerência do Ensino Médio, neste ano de 2024, e é responsável por mais de 5.500 professores e quase 62 mil alunos. Ela se lembra até hoje das mensagens de entusiasmo que recebeu de professores, gestores escolares e técnicos, no momento em que tornou público o documento orientador para o trabalho com projetos de vida no TO. “O período formativo que tivemos a partir da parceria com o Instituto iungo trouxe aprendizados muito importantes para o trabalho curricular e pedagógico. E para além disso, fez com que os professores se sentissem valorizados, possibilitou que os técnicos da Seduc participassem ativamente de todo o processo, contribuindo verdadeiramente, adquirindo expertise de formadores e vivenciando um desenvolvimento profissional que nos permitirá alçar novos vôos”, afirma.
Segundo Iane, outro aspecto importante foi o reconhecimento, a partir do programa Itinerários Amazônicos, do significado da presença do Tocantins na Amazônia Legal e na Região Norte. “Essas reflexões estão subsidiando a identificação e sistematização da identidade da rede como um todo, com apoio do iungo, é claro, um parceiro que entende a nossa linguagem e as nossas necessidades”, conclui.
Autoria, autonomia e valorização
“A história do iungo com o Tocantins é muito interessante porque conseguimos estabelecer a colaboração de forma exemplar: a rede viu sentido nas ações, tanto no programa Itinerários Amazônicos quanto em projetos de vida; e passou a criar recursos adequados às suas necessidades, às demandas do território, com o nosso apoio”, explica Renata Alencar, coordenadora pedagógica de formações do iungo. “Esse é um bom exemplo de como é a nossa forma de trabalhar com as redes estaduais, ou seja, a interação envolve muita escuta, respeito e confiança, permitindo identificar oportunidades de trabalho conjunto”, complementa.
Outro ponto destacado de forma unânime pela equipe do iungo e da Seduc-TO como elemento de sucesso para a parceria foi o incentivo à autoria docente. Professores de diversos municípios foram convidados a mostrar suas práticas nos ciclos formativos do programa Itinerários Amazônicos e de projetos de vida. “Esses momentos foram muito importantes para os professores — tanto os que estavam apresentando quanto aqueles que acompanharam as atividades. Trouxe mais visibilidade para a qualidade do que a rede já produz, valorizando a autoria docente, e favoreceu o aprendizado entre pares”, reforça Maria Brant, articuladora do iungo no Tocantins.
A colaboração aconteceu também nos ciclos formativos, que foram conduzidos em duplas: um formador do iungo e um técnico da Seduc. A equipe da secretaria passou a se ver também como formadora; e os professores sentiram-se ainda mais à vontade para as trocas. “O jeito de trabalhar do iungo envolve trazer, sempre que possível, as vozes da rede, valorizando a inteligência coletiva e as boas práticas que já existem em seu fazer pedagógico cotidiano”, acrescenta Renata Alencar.
O território do Tocantins mostrou-se solo fértil para as sementes de uma educação com mais equidade, sustentabilidade e inovação. “O compromisso dos profissionais, a comunicação entre as equipes da Seduc, abrangendo as superintendências e diretorias regionais de ensino; e a receptividade ao diálogo foram fundamentais para o amadurecimento do trabalho”, avalia Maria Juliana Leopoldino Vilar, que também atua no iungo junto à articulação da rede.
Projetos de vida e para a vida
De fato, quem mais entende sobre a educação de um estado é quem vive e trabalha na rede desse território. Vamos conhecer mais alguns desses educadores?
“Eu pensei que essa formação (os ciclos formativos em projetos de vida e do programa Itinerários Amazônicos) seria apenas mais uma formação. Mas o impacto que ela trouxe para a escola foi extremamente relevante, especialmente em um ano tão desafiador, com a chegada de novos professores, sendo muitos deles de outros estados. Os professores conseguiram trabalhar com os estudantes o protagonismo jovem, a cidadania e as dimensões social, pessoal e profissional dos projetos de vida, e estamos até inscrevendo as práticas em prêmios educacionais”, relata Muriel Ferrer de Sousa, coordenador pedagógico da Escola Centro de Ensino Médio Paulo Freire, no município de Araguaína. “O programa Itinerários Amazônicos tem tudo a ver com a nossa região, não só pelo clima e natureza, mas também pela lógica do regionalismo, da identidade e do pertencimento”, complementa Muriel.
“As formações e os momentos de partilha estimulam a reflexão e a criatividade dos professores. Na educação escolar indígena, estamos trabalhando a intergeracionalidade e a interculturalidade em projetos que promovem a interação dos estudantes com os anciãos da etnia Akwẽ-Xerente e a conservação de seu idioma, por meio de um site que está sendo desenvolvido pelos próprios adolescentes, em língua portuguesa e no dialeto do povo originário. Ver os trabalhos dos colegas de outras regiões do estado que também vão nesse sentido é muito importante”, conta o professor Leonardo Santana , do Centro de Ensino Médio Indígena Xerente-Warã, pertencente à Superintendência Regional de Educação (SRE) de Miracema do Tocantins.
“Os resultados que conseguimos no envolvimento e participação dos estudantes com as atividades propostas depois dessa formação em projetos de vida foram sensacionais. Até mesmo entre aqueles que sentiam vergonha de falar sobre o que sentem, pensam e desejam. Quero continuar neste caminho de construção de projetos de vida e para a vida”, entusiasma-se a professora Analdiane Noleto, que realizou um mapeamento de projetos de vida com 125 alunos do Colégio Estadual Girassol de Tempo Integral Nazaré Nunes da Silva, no município de Aguiarnópolis.
Cartografias iungo – inscrições abertas
Se você é professor ou gestor escolar dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio e quer fazer como a Gabriela, do Tocantins, ATENÇÃO: as inscrições para os cursos Cartografias iungo estão abertas! Você pode se inscrever em dois cursos gratuitos e on-line, que você faz no seu ritmo:
- Mapas de Projetos de Vida
- Planejando Aulas de Projetos de Vida
As atividades integram teoria e prática por meio do uso de metodologias ativas. Para fazer a sua inscrição, é só acessar: iungo.org.br/cartografias-iungo
Itinerários Amazônicos
O programa Itinerários Amazônicos, lançado em 2023, é desenvolvido em conjunto com oito redes de ensino da Amazônia Legal: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Roraima e Tocantins. A iniciativa é uma realização conjunta do Instituto iungo, da rede Uma Concertação pela Amazônia e do Instituto Reúna, em parceria e com investimentos do BNDES, Fundo de Sustentabilidade Hydro, Instituto Arapyaú, Movimento Bem Maior e patrocínio da Vale.
Saiba mais: itinerariosamazonicos.org.br