UBUNTU, por uma educação antirracista

Projeto de educadoras participantes da Residência EntrePares de Nova Lima (MG) promove sensibilização da comunidade escolar para construção coletiva de Plano de Educação para as Relações Étnico-Raciais

Quatro educadoras de uma escola em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, se fizeram a seguinte pergunta: como podemos conscientizar a comunidade escolar sobre a importância e a necessidade de uma educação antirracista, para que todos se vejam como responsáveis pela construção coletiva de um plano real e verdadeiro, capaz de transformar esse cenário?

Esse questionamento se juntou à participação das professoras na Residência EntrePares, uma das iniciativas da Secretaria Municipal de Educação de Nova Lima em parceria com o Instituto iungo, e também à necessidade de elaborar um plano de ação para a Escola Municipal Dalva Cifuentes Gonçalves, a ser apresentado ao Núcleo de Educação para as Relações Étnico-Raciais da Secretaria — órgão que trabalha pela real implementação das leis 10.639 e 11.645, que tratam da inclusão de temáticas históricas e culturais afro-brasileiras e indígenas nos currículos escolares; e para a elaboração de protocolos escolares antirracistas.

Assim nasceu o projeto “UBUNTU, por uma educação antirracista”, idealizado pelo coletivo de residentes de Cida Souza (supervisora), Helen de Cássia Araújo Silva, Graziella Cristina Amácio e Thaise Graziele de Fátima Pinto Teixeira (professoras). Primeiro, a equipe aprofundou seus estudos sobre o tema, contextualizando o conhecimento de acordo com a realidade local, sempre com apoio da direção da escola e a tutoria da coordenadora da formação pelo iungo, Tailze Melo.

Semana UBUNTU

Com os objetivos e ações bem definidos, chegou a hora de pôr a mão na massa para desenvolver a Semana UBUNTU, realizada nos últimos cinco dias na escola nova-limense. As propostas buscaram informar e sensibilizar a comunidade escolar — “e todos que conseguirmos alcançar”, como enfatizam as educadoras — de forma acessível e direta, em relação ao chamamento ético que constitui a educação antirracista.

A programação da Semana Ubuntu foi além do espaço escolar em si, envolvendo as famílias dos estudantes, os comerciantes e outros integrantes da comunidade do bairro em que a escola está localizada. As atividades incluíram:

– vídeo divulgado nas redes sociais da escola sobre o projeto;
– exposição de artigos e reportagens sobre o assunto, com materiais selecionados e enviados pelas famílias dos estudantes;
– trilha das expressões racistas — exposição de uma trilha de palavras e expressões, dentro da escola e no comércio local, ilustradas por desenhos dos estudantes;
– oficina e contação de histórias com integrantes do movimento negro da cidade;
– pesquisa com participantes para montagem de um varal de depoimentos sobre experiências vividas em relação ao racismo.

“À medida que fomos desenvolvendo o projeto, algo extremamente bonito aconteceu. Fomos tão tocadas pelos estudos, depoimentos e discussões, que o projeto deixou de ser ‘um projeto’ e tornou-se ‘O Projeto’. Sonhamos em realmente conseguir despertar, em cada um que participou da Semana UBUNTU, a sensibilidade de entender que realmente se trata de um chamamento ético e, assim, aguçar o desejo de participar da construção de um plano de ações para educação das relações étnico-raciais que combata o racismo, o preconceito e a discriminação, a começar dentro da Escola”, resume Cida Souza.

UBUNTU é uma palavra de origem africana que expressa a ideia de que só poderemos ser felizes de verdade à medida que todos puderem ser felizes. “Eu sou porque nós somos” é a síntese do Ubuntu.

A Formação

A Residência EntrePares é uma das iniciativas da Secretaria Municipal de Educação de Nova Lima em parceria com o Instituto iungo, voltada à valorização dos educadores e seu desenvolvimento profissional. É um percurso formativo colaborativo, integrado ao tempo de dedicação dos profissionais nas escolas. Ao longo de oito meses, os profissionais das escolas participantes vivenciam uma jornada formativa focada na construção de soluções às demandas reais de suas comunidades escolares.

Os conteúdos trabalhados incluem comunidades de aprendizagem, estratégias de escuta da comunidade escolar, processos criativos colaborativos, aprendizagem baseada em projetos e outras metodologias ativas. Os coletivos de residentes são convidados a trabalhar juntos durante sessões de tutoria para pensar e implementar soluções para situações-problema significativas das suas comunidades escolares, desenvolvendo projetos de natureza interdisciplinar. Cinco escolas participaram desta edição: Escola Municipal Cristiano Machado, Escola Municipal Dalva Cifuentes Gonçalves, Escola Municipal Harold Jones, Escola Municipal José Francisco Da Silva e Escola Municipal Urcino Nascimento.